quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

13- Sem escape

“Derick...”, por mais que estivesse relutante em admitir estar apaixonada, eu estava. Ele era único. E mesmo sentindo um turbilhão de emoções eu sabia que ele merecia o que o fizesse feliz. E naquele momento o que ele queria era estar perto da Melanie. Em toda a minha vida não tinha encontrado alguém tão sincero em seus sentimentos como ele, nem de longe tão bom como ele era...




Se alguém merecia ser feliz eu sabia que era ele e não mediria esforços para que ele fosse, mesmo que isso significasse não poder viver nenhuma linda estória de amor com ele. Eu já não sabia mais o que significava o amor, nem para o que ele servia, mas a necessidade em fazê-lo feliz corria por todo o meu ser.



“Desculpa, Yasmin... Eu sempre fui o mais chorão da família mesmo... Mas é bom poder ter alguém como você pra desabafar. Desde de que te vi pela primeira vez, soube que poderia confiar em você. Muito obrigado.”, mas ele não secou as lágrimas, como se mesmo aquela dor fosse preciosa para ele.



“Que isso... A letra está linda. Fico imaginando quando tiver melodia e quando a banda tocá-la. Nossa... Como queria escrever como você.”, escrever bem nem de longe era um dom que eu possuía.




“Ainda vou arrumar algumas coisas na letra e provavelmente quando a Tali for transformar numa música também vai fazer algumas adaptações. Mas é bom saber que gostou...”.



“Acho que você deveria mandar uma carta para a Melanie. Contar tudo o que sente... Talvez ela sinta o mesmo por você...”, não foram palavras fáceis de serem ditas, mas eu estava decidida. Não precisava ter um namorado para ser feliz.



Aquela amizade que já parecia tão antiga com o Derick era uma oportunidade de fazer algo de bom para uma pessoa que realmente merecia. Eu já tinha experiência, graças ao clube, em unir casais... Não tardaria e Derick estaria com quem devotava tanta paixão.



“Eu a conheço, Yasmin... Ela estava louca pelo atacante do time de futebol do colégio. Uma declaração só a deixaria entristecida por não corresponder aos meus sentimentos.”.
“Ou talvez não. Você prefere ficar aqui longe dela, escrevendo lindas canções que ela jamais saberá que te inspirou?! Você não falou mais com ela desde que veio para cá... Não sabe como ela ficou.”.



“Tenho certeza de que ela sente a sua falta. Apenas arrisque... O pior já está acontecendo.”, depois de aconselhar, pensei se não tinha sido dura demais, mas a resposta que veio em seguida fez com que isso perdesse a importância.



“É... Acho que você tá certa. Vou fazer isso. Vou arriscar. Mas acho que vou precisar do seu apoio pra ir até o fim...”, insegurança fixa em suas palavras, me perguntava o motivo dela ter surgido em sua vida.



“Claro que te ajudo.”.
“Já temos que ir. O tempo passou muito rápido hoje.”, Derick disse com pesar.




Tive um sonho naquela noite, mais adequado seria dizer um pesadelo. Eu estava com o André, como se ainda fosse o nosso tempo de namoro. Quando éramos apenas crianças... Uma memória confusa sobre o nosso primeiro beijo.



Porque não comigo que acontecia... André e Raquel se beijavam exatamente no mesmo lugar do meu primeiro beijo. Era como se eu e a Raquel tivéssemos trocado de lugar.



Eu via cada momento especial que aconteceu no meu namoro, acontecendo com eles dois.



Acordei sentindo algumas lágrimas furtivas. O meu coração ainda disparava. Aquele sonho tinha me feito relembrar de tudo o que forcei esquecer.



Tinha tudo sido uma mentira, eu gritava internamente. Cada palavra, cada beijo... Mesmo que não tivesse sido tudo falso, em algum momento passou a ser. A Raquel, que tanto julguei ser minha amiga... Como pode esconder algo assim de mim?



Toda aquela dor que tranquei em meu peito por todos aqueles meses, inundou os meus olhos. Já não tinha mais espaço para guardá-las, então chorei até que já não conseguisse mais.



Olhei para o relógio e vi que já tinha dado seis horas, mas ainda me sentia cansada, não sabia desde que horas estava acordada.
Não faria como da outra vez, quando soube que havia sido traída, e fiquei uma semana sem ir à escola. Não perderia mais nenhum dia de aula por ele, não era justo.



Vi algumas alunas passando de toalha pelo corredor, enquanto me apressava para tomar um banho. Depois do banho, fui ao quarto da Mariana, que já estava arrumada e usava seu notebook.



“Sabe se a Sally já acordou? Hoje eu perdi a hora... Vou me arrumar. Pode ver a Sally?”.
“Ela precisa é de um despertador. Aff! Vai lá se arrumar que cuido disso.”, Mariana.



Por fim, acabei indo apenas com a Mariana para o colégio. A Sally só acordou quando a Mariana apareceu em seu quarto e, com a sua típica demora, pediu para que fossemos sem ela.



Quando chegamos, todos os alunos, excetuando a Sally, já estavam acomodados em suas carteiras. O primeiro horário de aula já tinha começado. Era aula de biologia com a professora Agatha.



“Yasmin, cadê a Sally?”, Jack parecia preocupado.
“Ela já vem, Jack. Só acordou tarde e ainda está se arrumando...”.



“Tem certeza que ela vem?”.
“Se tratando da Sally não dá pra ter certeza, mas, qualquer coisa, é só ligar pra ela.”.



Sally não apareceu nas duas primeiras aulas e Jack ficou inquieto. Toda vez que o observei, ele estava distraído, nem participou da habitual conversa do fundo da sala.



Algumas vezes peguei-me olhando o André e a Raquel. Sabia que nunca mais poderia voltar a sentir por eles todo aquele carinho que um dia devotei, mas isso parecia ser algo bom... Seguro.

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

12- Um novo amigo

O mês de agosto já havia terminado.
No primeiro intervalo das aulas, a banda (ainda sem nome), eu e as meninas nos reuníamos. Sempre aparecia o tema ‘música’, mas não deixávamos de conversar sobre outras coisas, nada realmente importante, mas o suficiente para fazer com que eu gostasse cada vez mais de todos.




No segundo intervalo cada um tomava um rumo diferente. A Mariana ficava com o Luan e o Scott, e as brigas entre eles pareciam ter diminuído.



A Sally estava sempre com algum garoto, mesmo assim não namorava, nem ficava com nenhum. Também não diria que aquilo era algum tipo de amizade.



Caio e Vinícius pareciam ter se tornado grandes amigos, mesmo nesse curto tempo. Estavam sempre juntos socados na sala de informática jogando.



Talita e Ricardo além de gêmeos eram muito amigos e dificilmente os via distante um do outro. Estavam sempre com um grupo de roqueiros diferente.



Jack era o único que ficava sozinho durante o segundo intervalo. Depois de comer, ficava ouvindo música e vendo de longe o que Sally fazia.



O Derick sempre me fazia companhia. Depois de ter me revelado sobre a sua paixão, gostava de conversar sobre isso comigo. Não tinha interesse sobre a Melanie, mas nessas conversas eu podia conhecer mais sobre ele e isso sim me interessava.



Ele passou a me procurar durante as tardes, enquanto eu estava no clube. Era difícil encontrar tempo, porque muitos alunos procuravam por ajuda do clube, mas eu sempre reservava um tempo para ele e nossas conversas.



O toque de recolher da Casa Rosa era às dez, com meia hora de tolerância. Ficava com o Derick na casa secreta, era como chamávamos o prédio abandonado, enquanto ele escrevia e eu, de acordo com ele, o ajudava. Chegava para dormir quase no limite do tempo de tolerância.



Ele tinha um coração tão bom e nunca tinha algo de ruim para falar sobre alguém... Não de graça. Imaginava o tipo de pessoa que seria tão ruim ao ponto de deixar uma má impressão dessas no Derick, não gostaria de esbarrar em alguém assim.



Eu não era do tipo de pessoa que contava nem para amigos sobre muitos dos meus sentimentos, muita coisa eu guardava apenas para mim. Isso fazia com que muitos pensassem que eu era uma pessoa fria... Mas isso era tudo o que eu jamais fui. Não fazia grandes demonstrações de afeto, não abria o meu coração para muita gente e era reservada.



Mas ninguém poderia imaginar a grandeza de sentimentos que eu trazia comigo. Nunca achei que amar fosse gritar para o mundo todo ouvir ‘te amo’, acreditava que as atitudes simples valiam muito mais e era assim que eu agia.



A Sally era uma amiga de infância e apesar disso, já tinha cansado de me chamar de fria e insensível. Eu não pensava mal dela por isso, ela nunca falou para me ofender, apenas não conseguia me entender. Mas também não a entendia.



Não entendia como ela era capaz de se apaixonar tão rapidamente e por tão pouco tempo. Num dia estava chorando por um, no outro já tinha uma nova paixão e começava novamente com as suas loucuras para conseguir conquistar o rapaz.



Eu sempre fui apaixonada apenas pelo André e nunca fiz nada de extraordinário para demonstrar isso. Ele precisava de uma amiga, eu estava lá. Ele precisava de carinho, eu estava lá. Ele precisava de espaço, eu dava. Ele precisava de ajuda, eu ajudava... Isso que era amor, para mim.



E era apenas isso que eu considerava como amor até ter sido traída. Sabia que o erro tinha sido dele, mas isso não ajudava muito. Por que ele me traiu? Por que disse que me amava se não era isso o que sentia? Eram perguntas que não ousaria fazer, mas que não me deixavam em paz.



A Mariana era mais parecida comigo. Por isso me entendia e apoiava em silêncio. Eu estive lá ao seu lado, enquanto ela tentava parecer não estar completamente apaixonada pelo Scott, enquanto ela se sentia culpada por não resistir a cada beijo dele, enquanto tentava se afastar de tudo isso e apenas aumentava a sua culpa por não conseguir se apaixonar pelo Luan.



Ela nunca precisou me dizer o que sentia, como também evitei perguntar, mas eu podia ver. Não poderia julgá-la mal, porque a conhecia e sabia que ela já fazia isso a si mesma incansavelmente. Queria que ela pudesse dar logo um fim nisso tudo, ficar com ele ou se afastar de vez, mas parece que estar apaixonada a deixou sem a sua típica clareza de pensamento.



Não contei para as duas sobre o que estava sentindo pelo Derick. Não por falta de confiança nelas, mas porque era mais uma daquelas coisas que eu gostava de manter apenas comigo.



Na verdade, dizer que eu conversava muito com o Derick seria um equívoco, porque não falávamos tanto. As palavras eram poucas, mas mesmo assim eu sentia como se o conhecesse muito bem e ele reagia como se pensasse o mesmo sobre mim. Eu sempre achava mágico aquele tempo em que passávamos calados, porque ali muito mais era dito.



Era noite do dia três de setembro, quarta-feira. Estava com o Derick no andar de cima da casa secreta. Fiquei observando o movimento que o vento provocava em seus cabelos, enquanto ele escrevia sem parar.



“Acho que acabei de escrever uma nova canção...”, Derick.
“Sério?! Lê pra mim...”, pedi curiosa.



“Claro...”, desviou o seu olhar para o céu estrelado antes de começar a leitura.


“Ao seu lado sou mais do que feliz e o meu fardo é não poder ter você perto de mim. O meu maior sonho é para sempre te confessar, que não sou capaz de deixar de te amar. As lágrimas insistem em descer, precisei ir embora. Meu coração agora só chora. Gostaria de mais uma vez te ver. A minha dor é saber que um dia me esquecerá.”.



“Amo e não posso estar contigo. Imagino que é tudo um castigo por tantos erros que cometi. Peço perdão, por antes não ter contado que você acelera o meu coração, que é a minha amada. Poder ter você no meu coração é um presente que jamais teria como agradecer.”, lágrimas escorriam pelo seu rosto ao terminar de ler.