terça-feira, 23 de dezembro de 2014

36- Sem volta

“A Melanie...”.
“Como...? Quando você a viu? Ela está lá na sala... Também ficou preocupada com você...”.
“Ah...”.
“Amor, quer que eu te leve ao hospital? Você não parece bem...”.

“Não, não... Você é um bom amigo. Estou atrapalhando o seu encontro. Pode deixar que vou ficar bem... Acho que uma boa noite de sono é o que preciso.”, menti.
“Encontro?”.
“Hum... Não sei como vocês tão chamando, mas não precisa esconder de mim. Já disse que vou ficar bem.”.

“Yasmin, não estou conseguindo te entender...”.
“Derick, não precisamos complicar nada. A Melanie veio aqui por você, era mais do que você queria... Então aproveita. Não vou morrer por isso.”, a última frase foi ainda mais difícil de ser dita, saiu engasgada.

Ele me fitou em silêncio, lendo meus pensamentos. Depois de longos segundos, resolveu falar e parecia muito ofendido.
“Yasmin, acho que eu não fui claro o suficiente quando disse que estava apaixonado por você, nem quando disse que estava te amando, nem quando me tornei o seu namorado. Talvez o meu erro tenha sido não dizer sobre o quanto você é especial pra mim. Que o meu coração fica enlouquecido toda vez que estou perto de você ou apenas penso em você, o que acontece o tempo todo. Se você fizesse ideia do quanto me sinto um idiota sendo tão dependente de você e sequer tentando deixar de ser... Mas pensei que tudo isso fosse óbvio demais e que era desnecessário dizer, porque todas as pessoas que me conhecem percebem isso... Me ofende muito que você pense que sou tão volúvel e fútil assim e principalmente que menospreze o meu amor por você.”.

“Mas...”.
Ele me interrompeu, “Nunca te dei motivos, Yasmin.”.
Pensei sobre isso. Mas era tão incompreensível que alguém como ele realmente pudesse me amar...

Ele segurou a minha mão, “Nunca mais faça isso, Yasmin, por favor... Fiquei tão preocupado ao te ver naquele estado...”, suspirou pesaroso, “A Melanie está namorando, não veio por querer ficar comigo. Veio por considerar a nossa amizade e achar certo me dar alguma resposta pessoalmente. Ela só não esperava que eu também estivesse namorando...”, sorriu, “Bem... ela ainda é uma amiga muito querida pra mim, Yasmin, mas isso não significa que eu ainda tenha paixão por ela. Melanie vai embora amanhã. Gostaria que a conhecesse antes disso, mas apenas se você quiser.”.
“Acho que não tem problema nisso...”, consegui dizer.

Depois do banho me juntei ao restante do pessoal na sala. Era difícil não olhar para a Melanie e não a ver com a mesma graça que o Derick a descreveu por incontáveis vezes. Ela era bem simples e quieta, mas também agradável. O tipo de pessoa que transmite calma nos momentos mais turbulentos... Entendia o que o Derick sentia por ela... Porque era a mesma calma que ele me transmitia.
Eu sabia que não existiria o dia em que eu deixaria de amar o Derick ou que o amaria menos.

Eu me sentia egoísta por tê-lo feito desistir da Melanie, quando na verdade eu tinha me proposto a ajudá-lo. Mas se eu me esforçasse o suficiente para fazê-lo feliz, poderia sentir-me menos culpada...
Não conseguia deixar de acreditar que tudo aquilo fosse algum tipo de sonho e que a qualquer momento eu acordaria, mas aproveitar cada segundo daquela felicidade - mesmo que fosse apenas um sonho - era mais do que eu poderia desejar.

Deixamos a Melanie no hotel antes que ficasse muito tarde da noite.
Na volta, fomos para a Casa Secreta. Derick deitou no chão empoeirado sorrindo como uma criança. Eu me mantive em pé o admirando. Encarei o céu. Fechei meus olhos e senti a brisa fria molhar o meu rosto.
“Min, tem um problema...”.

Voltei a fitá-lo.
“Qual?”.
“Bem... Quando te encontrei aqui desmaiada, chamei o pessoal para me ajudar... Aqui não é mais a nossa Casa Secreta...”.
Sorri e me abaixei para ficar mais próxima dele, “Derick, aqui será sempre a nossa Casa Secreta.”.

Ele sorriu também, “Foi aqui que nos conhecemos... Em pensar que se eu tivesse sido mais teimoso e permanecido na minha antiga casa, não teria te conhecido assim... Você seria sempre a garotinha mandona e séria amiga da Sally e nunca a garota incrível por quem eu me apaixonei tão perdidamente...”.
Ele parecia gostar de me ver encabular, pois sempre dizia coisas que me deixariam assim.

Eu nunca sabia transformar tão bem em palavras os meus sentimentos e por diversas razões bobas não tentava. Mas Derick parecia ver tão bem tudo através dos meus olhos que nesses momentos eu me sentia estranhamente confortável.
Eu não merecia o Derick. Não merecia tanto carinho e compreensão. Mas tê-lo perto de mim, me transformava tão profundamente que eu sentia que em algum dia eu poderia merecê-lo e que poderia dar-lhe algo significativo em troca por todo o bem que ele me fazia.

Senti sua mão tocando em meu queixo e o levando para a direção de seu rosto.
“Ei, Min... Você pensa tanto, mas acho engraçado ver as suas expressões mudando de acordo com os seus pensamentos...”, riu, “ O que te fez sorrir agora há pouco?”.
Dei a melhor resposta que poderia quando encostei meus lábios nos dele.

segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

35- Como desejei...


Eu não poderia competir com ela. Perderia de todas as formas. Não por ela ser alguma garota perfeita, mas por ela ser a garota perfeita do Derick. Uma paixão de tantos anos...
Eu não ficaria ali pra ouvir o que me destruiria de vez. Fui até o pequeno jardim, cercado como um labirinto, que tinha naquele pátio. E desejei ainda mais ardentemente acordar daquele horrível pesadelo quando encontrei a Raquel chorando num dos bancos.

Só podia ser mesmo um pesadelo!
Assim que a Raquel me viu, suas lágrimas ganharam mais forças, “Min, me perdoa, por favor...”.
Eu sequer conseguia me mover. Minha mente estava a ponto de explodir.
“Eu fui muito burra em estragar a nossa amizade com o meu egoísmo... Não sei te dizer o quanto estou arrependida! Te traí da pior maneira e o pior que só agora percebo o quanto... Eu sinto tanto a sua falta, Min... Tanta...”, ela dizia entre soluços.

“Ele terminou comigo agora há pouco... Disse que é muito novo pra se prender a algo sério, que precisa conhecer outras pessoas... Min, eu não sei viver sem vocês dois! Eu me odeio por isso, mas sei que mesmo sem querer vou ficar esperando pelo momento em que ele me quiser novamente, eu o amo demais! E nunca vai existir alguma coisa na minha vida que eu não queira compartilhar com você, Min. Tanta coisa que eu queria poder conversar com você... Você também não sente falta? Nós éramos tão perfeitas juntas, Min... Eu só queria ser feliz e estraguei tudo... Se você me perdoasse... Eu juro que nunca, nunca mesmo... Por que você não me deu uma segunda chance e deu pra ele, Min? A nossa amizade... Eu era tão sem importância assim pra você? Você não sente a minha falta?”, Raquel.

É claro que eu sentia falta, mas jamais poderia confiar nela novamente e isso decidia tudo. Era até mesmo difícil acreditar no arrependimento dela ou em qualquer coisa que ela dissesse...
“Por favor, Min, fale comigo... Qualquer coisa que for, mas fale...”, ela suplicava.
Cheguei a abrir os lábios, mas fechei antes de pronunciar qualquer som o que fez com que ela chorasse ainda mais. A verdade é que eu não tinha nada pra dizer... E não queria me preocupar com aquilo. Eu já tinha a minha dor. A Raquel encontraria alguma forma de lidar com a dela também.

Consegui me mover e saí do jardim.
Nem o Derick, nem a Melanie estavam mais lá.
Por que a minha esperança tão fraca e debilitada ainda conseguia me ferir?
Não me importava mais com a feira, com a escola, ou com qualquer outro problema que eu pudesse ter por sair de lá correndo para o estacionamento e pegando saudosa e novamente no volante do meu carro.
O meu destino só poderia ser um: A Casa Secreta.

Ele não estaria lá, eu sabia. Mas eu precisava estar... Precisava das lembranças daquele lugar.
Subi as escadas e cheguei a ver o Derick sentado entre as folhas, como o de costume.
“Yasmin...”. Gelei ao ouvir a sua voz.
Não sabia que uma ilusão poderia parecer tão real.
“Yasmin, você tá bem?”.

Sentei-me ao seu lado, fascinada com o quanto conseguia me sentir melhor só com aquela memória. Lamentei ter a vista coberta por uma escuridão, que fugia do meu controle. Apaguei.
Acordei na cama macia do meu quarto. E gargalhei feliz por ter a certeza de que tinha sido tudo apenas num pesadelo horrível.
“Ah, gente... Agora acho que o hospital era mesmo uma boa ideia. Ela deve tá delirando... Tem gente que fica assim com febre, né? Ela tá com febre?”, ouvi a voz preocupada da Sally.

Uma mão ligeira tocou a minha testa e quando reconhecia ser do Derick, abri os olhos.
“Ela não tá com febre...”, Derick.
“Derick...”.
“Amor, o que aconteceu com você? Não te levei ao hospital, porque o pessoal disse que você devia tá só cansada e dormindo, mas...”, Derick.

“O que aconteceu comigo?”.
Derick desviou o olhar pro restante do pessoal que estava no quarto, depois olhou para mim novamente.
“Não se lembra? Te encontramos lá no prédio abandonado...”, Derick.

Então não tinha sido tudo um pesadelo. Realmente aconteceu.
“Ah...”, disse pesarosamente, “Lembro sim. Desculpa, não queria ter causado problemas...”.
“Acho que é melhor te deixar descansar agora...”, Derick.
Ele iria embora de vez... Iria para os braços da Melanie.


Senti uma lágrima ligeira descer pelo meu rosto.
“Min?! Ei, amor... O que tá acontecendo?”.
“Vou sentir a sua falta...”, meu pensamento conseguiu voz.
“Ok, hora de deixar o casal sozinho...”, Sally.
Todos se retiraram em silêncio.

“Eu posso esperar aqui, não preciso ir.”, ele disse sorrindo, enquanto secava a lágrima do meu rosto.
“Mas e ela? Vai deixá-la sozinha?!”.
“Ahm? Ela quem?”.

domingo, 21 de dezembro de 2014

34- Alguém me acorde!

“Min...”, Derick me chamou.
“Derick...”.
Ele sorriu ao ouvir a minha voz.
“É que eu nem comentei...”, mesmo com todas aquelas luzes atrapalhando, vi suas faces mais avermelhadas, “Você está linda.”.

Eu queria dizer que ele também estava lindo, que ele sempre estava lindo, mas foi a minha vez de ter as faces coradas.
Desviei o olhar e agradeci. Sabia que ele estava sendo sincero, mas ser bonita perto dele era impossível.

Não fomos à aula no dia seguinte, como todos que foram à festa.
Voltamos à Almerim.
Eu e o Derick passeamos sozinhos. Apesar de estar acostumada com a presença dele, sendo namorada era diferente. E ele era ainda mais amável...
Mas o melhor ficou com a noite daquele dia, quando fomos até a Casa Secreta.

“Min, tem algo que fiz pra você...”, Derick.
Sentei, ele começou. Quando ele desviou os olhos de mim e fitou o céu, tive certeza de que não ouviria qualquer coisa. Gelei, já supondo o pior. Talvez fosse hora de acordar...

“Repouse em mim
Não precisamos de palavras
Apenas me deixe te envolver com os meus braços
Olhe, a noite já está partindo...
Deixe-me retirar mais uma vez as lágrimas insistentes do seu rosto
Durma mansamente, porque estarei velando o seu sono
Não importa o que tenham te feito, o que tenham te dito. Não importa o que tenham me feito, o que tenham me dito. Estamos onde queríamos estar. Capturados. Fascinados.
Repouse os seus lábios nos meus. Esqueça o caminho de volta.
Não estamos fugindo, apenas seguindo o caminho certo.
Corra meu amor, porque a noite está acabando...
Não precisa trazer com você uma canção num papel, ela sempre esteve no seu olhar e mesmo agora posso ouvi-la.
Apenas se apresse, meu amor, em me encontrar.”.

Talvez fosse a surpresa grande demais que tenha me feito chorar. Ele me abraçou, “Nunca conheci alguém como você, Min... Acho que estou amando...”.
Por mais que eu tivesse a certeza da grandeza do que sentia por ele e o visse com tanta transparência, não era capaz de confessar que o amava. Não sabia se conseguiria dizer essas palavras novamente, mas já era grata por me sentir amada e por amar.
Derick era sempre perfeito... Não me deu tempo pra responder, apenas selou meus lábios com os dele.

A tão esperada Feira Escolar havia iniciado no dia dezenove.
Eu estava numa das salas do clube vendo algo que julguei ser impossível: Sally conversando amigavelmente com o Bruno. Pasmei.
Bruno nunca disfarçava todo o encantamento que tinha pela Sally; seus olhos brilhando, seu sorriso bobo, seu corpo agitado. A minha amiga também parecia de alguma forma encantada, interessada... Por isso fiquei curiosa em saber sobre o que conversavam.

“Eu achei essa experiência mesmo bem simples, a Fernanda me ensinou o que fazer hoje e eu já tive que repetir tantas vezes, né... Mas quando me perguntavam alguma coisa eu tinha que enrolar!”, gargalhou, “Brigada mesmo pela ajuda... Agora podem me perguntar quase tudo que não vou fazer feio...”.
“Ah, não por isso! Se você não tivesse comentado, eu pensaria que sabe de tudo sobre física... Está explicando muito bem. E com o seu sorriso ainda deixa física interessante.”, Bruno.
Sally abriu um sorriso tímido.

Mesmo tendo ouvido um pouco daquela conversa não pude entender o que tinha os levado àquele ponto. Lembrei da festa de boas vindas que teve no meio do ano em que o Bruno disse que a Sally se apaixonaria por ele... Estremeci. Fitei a minha amiga sorrindo e previ uma nova paixão.
Percebi que a Mariana não estava na sala, logo ela...

Saí da sala com a intenção de ver o que ela fazia. E a encontrei na porta. Falava ao celular, o que já era surpreendente o suficiente, porque ela só o usava comigo e com a Sally.
“Mas eu também não sou fã do filme e muito menos do Robert Pattinson. Ah, mas eu vi porque as meninas são loucas por esse filme... Toda reunião tem que colocar o filme. Não... Também não é assim. Eu gostei do filme, mesmo porque amei os livros, mas ver tantas vezes o mesmo filme é demais... Você não tinha que tá explicando alguma coisa aí na sua sala?”, riu, “Ainda bem que foi você quem me ligou... Doido! É, depois a gente se fala... Até mais, Scott!”, Mariana.

Pensei ter ouvido o nome errado, porque a conversa animada e todo o resto não poderiam ser da Mariana com o Scott... Poderia?
“Era o Scott?”.
“Nunca te disseram que é falta de educação ouvir a conversa dos outros?”, ela sequer parecia chateada com isso, “Sim, era ele... Ele fica me ligando...” ruborizou.

Comecei a duvidar daquele dia. Talvez eu ainda estivesse envolvida nas cobertas do meu quarto dormindo. Sally e Bruno, Mariana e Scott... Era demais para um dia só.
Ou talvez não...

Foi o que pensei ao ver a mesma menina de cabelos negros e pele clara demais, que tantas vezes o Derick havia me mostrado em fotos como o seu grande amor, conversando com ele do lado de fora do prédio. Ela tinha o tipo de beleza que eu sempre quis ter... E agora também teria o garoto...

33- Comemorações

Mais beijos. Eu não tinha sono, precisa mesmo dormir? Temia que quando ele se afastasse das minhas vistas eu acordasse do sonho... Era tudo muito bom para ser verdade.
Assim que abri a porta do quarto me assustei ao ver as minhas duas amigas acordadas e com caretas repletas de insinuações.

“Sua safadona! Tirando a pureza do meu priminho...”, Sally com falsa bronca.
Mariana não aguentou e começou a gargalhar.
“Ah, gente... Por favor! Ele vai ouvir. Querem mesmo me matar de vergonha...”.
Sally deu uma risadinha, “OK, a gente para, mas acho muito bom a senhorita sentar aqui e nos contar tudinho... Sabe, não temos pressa.”.

“Isso mesmo, Min. Claro que pulando os detalhes sórdidos, porque esses nós já vimos de camarote.”, Mariana.
“Amigas enxeridas... Tudo de bom!”, disse sarcasticamente.
Elas se acomodaram na cama. Não tinha como negar a minha vontade de compartilhar com elas e rendi-me. Foi uma longa noite. Dormimos apenas quando os bocejos e os olhos se fechando nos venceram.

Acordei com a Mariana e a Talita me empurrando de leve.
“Shi...”, Talita sussurrou.
Só então me dei conta da família reunida no quarto. Fiquei muito envergonhada... Devia estar com a cara amarrotada, olhos remelentos e um bafo de brinde. Passei as mãos rapidamente pelos olhos antes de me deparar com o sorriso radiante do Derick.

Mariana notou o meu sorriso em resposta e também sorriu.
Talita também notou, “Ah, finalmente! Bem... Depois quero saber tudo!”.

Todos começaram com uma contagem regressiva em voz alta, “Três... Dois... Um!”, e se jogaram em cima da Sally que ainda dormia. Não ao mesmo tempo, com medo da cama se partir. Talita segurou a minha mão e pulei com ela em cima da Sally.
Ela abriu um sorriso e ainda com os olhos fechados passou a mão no rosto. Depois começou a sessão abraços e “Feliz aniversário, tampinha!”. Sally já começou o aniversário reclamando do apelido, mas era palpável a sua alegria.

A festa que seria à tarde passou para de manhã e se estendeu por toda à tarde, foi prevendo isso que sugeri que o horário fosse trocado.
Os convidados éramos apenas nós e nossos pais... Não gostei quando vi chegar a Sandra acompanhando o meu pai. Nesse momento senti as mãos, já tão conhecidas e que dificilmente soltavam as minhas, me envolverem com mais força.

Ao lado do Derick tudo parecia irreal. Eu que tinha o costume de pensar mais no lado ruim das situações ou que tinha a tendência a acreditar mais nas chances do pior acontecer, encontrava-me sorridente, mesmo com a presença da Sandra, e acreditava fielmente que tudo fosse ficar bem... Pelo menos, até acordar do melhor sonho da minha vida.
Os meus sogros eram adoráveis, porque mesmo tendo que aturar os constantes comentários desagradáveis da Sandra, não a trataram mal em momento algum. Sequer respondiam as afrontas, fingiam não notar e mudavam o assunto. Estava orgulhosa por ter conhecido pessoas tão boas assim.

Sally sempre que passava por mim me chamava de “Prima” ou “Priminha”, Mariana de “Prima da Ly”... Sabia que a intenção era me envergonhar, mas a presença do Derick me anestesiava e eu sorriria para uma afronta da mesma forma que para um elogio.
À noite depois de todos arrumados e já a caminho do ClubMix, notei a Mariana mais agitada do que o normal... Eu esperaria para saber o motivo.

Assim que chegamos encontramos quase todos os convidados já dançando. Fiquei surpresa quando o Derick me puxou até onde todos dançavam e começou a dançar também. Ele dançava bem... Era improvável não sentir vontade de beijá-lo o tempo todo.
Paramos quando a música parou e a voz da Talita nos chamou a atenção.

“A nossa banda sequer ainda tem um nome e a gente ia deixar pra a nossa estreia pra feira da escola, mas como hoje é um dia especial e sei o quanto a nossa prima vai ficar feliz com essa surpresa... Já falei muito, agora é hora de cantar!”.
Notei o quanto a Talita e todos os outros ficavam ainda mais lindos em cima do palco. Não sei se eram as luzes, ou se era apenas o efeito que o Derick me causava, mas eu fiquei arrepiada quando ouvi o som dos instrumentos. A música antiga e conhecida, “Parabéns pra você”, claro que no estilo deles, mas naquele momento tive certeza de que eles realmente realizariam seu sonho de serem conhecidos e reconhecidos.

A voz da Talita era de deixar qualquer um sem palavras e a forma como ela se entregava cantando... Era muito lindo de ver. Os rapazes tocando com paixão... Todo aquele sentimento era muito palpável. Tive que admitir que não apenas o meu Derick parecia um anjo...
Quando terminaram, olhei ao redor e vi que não era a única que estava abobalhada. Só depois de alguns segundos que os aplausos tomaram conta do lugar.

Sally estava bem próxima ao palco. Talita desceu do palco, abraçou a prima e deu um beijo de selinho.
Ricardo já estava ao seu lado, “Deixa eu te ensinar como faz, mana...”, e deu um beijo na prima que a deixou sem fôlego e com uma cara tão engraçada que fez com que todos rissem.

Foi tudo um exagero, mas percebi que isso era típico da família da minha amiga doida.
Enquanto todos voltavam a dançar, vi Mariana sentada num sofá e tendo como companhia o Scott... Fiquei surpresa ao vê-los rindo.