domingo, 27 de dezembro de 2009

11- Indisponível

A minha curiosidade venceu o meu sono. Já levantei buscando respostas.
“Falava com quem?”.


Ela me olhou um pouco surpresa, “Você ouviu?”.
“Tá com segredinho agora, é?!”.
Ela riu, “Desculpa se não conto tudo!”, sarcasmo.


“Tá namorando, Li?”.
“É ruim, eheim! Tá pra nascer o carinha que me levará a fazer um loucura desse tamanho! Falava com... Uma pessoa especial, que não vou te dizer quem é e nem darei pistas. Se eu pudesse, sabe que contaria, então, por favor, respeite um dos raros segredos que tenho.”.


“Mas por que não pode contar? Não confia mais em mim?”.
“Rá! Nunca confiei, minha filha! Não confio em ninguém. Pode parando com o drama... A pessoa fica com a pá virada se a acordam, mas pra ouvir a conversa dos outros não tem problema, né?! Tô dizendo...”, rimos.


“Então vai lá com o seu querido secreto que vou voltar a dormir.”.
Após mais meia hora de sono, estava acordando de fato. Sally estava em frente ao espelho terminando de se arrumar.


“Já está pronta?! Logo você?! Que milagre é esse?! Já vi que hoje vai ter até tempestade!”, impliquei.
“É que ele disse que chegava em vinte minutos... Ele não gosta de esperar e eu não gosto de ver a cara dele de ‘sou maduro e entendo’... Se eu estiver feia a culpa é toda dele, ninguém manda querer as coisas em cima da hora.”.


“Querer coisas, é?!”, ri antes de continuar, “Vai aprontar é, safadenha?! E nem me deixa saber quem é o bofe...”.
“Lembra do carinha da minha primeira vez? É o mesmo.”.


“Ah, não, miga! Conta quem é... Ele é lá do colégio? Tem quantos anos? Como eu ainda nunca vi?!”.


“Ele é educado e gentil. Me trata muito bem e cuidamos um do outro. Essas respostas que deveriam te interessar. O resto, se Deus permitir, você e ninguém nunca ficará sabendo. Agora tenho trabalho pra fazer, queridinha, depois que eu marcar o meu ponto, nos vemos na Casa Rosa. Beijo!”, e saiu sem mesmo esperar que eu dissesse alguma coisa.



Não levou um minuto e estava de volta com um semblante totalmente diferente.
“Mimi, desculpa sair assim... Não tá certo te deixar sozinha aqui. Por favor, diz que me entende e que vai sobreviver com o resto da minha família. Tem a Talita... Mas se achar desconfortável, pode me dizer...”.


“Não vou deixar de sair, porque é importante pra mim, mas eu posso ir com você até a Casa Rosa.”, adorava a família da Sally, desconfortável só me sentia na minha própria casa.


“Amiga, vai logo que o seu gato não gosta de esperar. Vou ficar bem sim, na verdade acho que até melhor longe de você, sabe...”, rimos.
Sally me deu um abraço, “Você é a melhor. Obrigada mesmo!”.


Antes de sair, brincou, “Prometo que guardo energia pra gente, amor!”.


Tomei um banho e desci.
“Bom dia, flor do dia!”, o Marcos cantarolou assim que me viu.
“Bom dia!”.


“Bom dia, Min! Todos já tomamos o café da manhã, mas não esquecemos de você. Tem bolo na geladeira. E pode ficar tranqüila que hoje quem fará o almoço é a Flávia. Teremos comida boa à tarde!”, Rita.


“Mas a macarronada de ontem estava boa.”.
“Ela é toda gracinha, né, amor.” A Rita comentou com o Marcos, que sorriu confirmando.


“Oh só, nós vamos colocar a nossa roupa de banho e ficar com os meninos lá na piscina. O que acha de nos acompanhar?”.
“Tá bom. Vou me trocar então.”.


Quando voltei encontrei todos dentro da piscina brincando e rindo.
“Vem, Mimi. A água está ótima!”, gritou a Talita ao me ver.
“Já vou... Vou curtir um pouco o sol antes.”.


Eles trocaram olhares e imaginei que viriam me carregar e jogar na piscina, mas não. Continuaram com as brincadeiras e fiquei admirando.


Depois de alguns poucos minutos o Derick veio falar comigo.
“Yasmin, se você não quer que te joguem na piscina é melhor sair daqui, porque é isso o que estão pra fazer...”, achei fofo ele ter vindo me avisar, mas eu não tinha muitos lugares pra correr... Era melhor ir de uma vez para perto do restante da família.


“Obrigada por avisar... Mas não acho que fugir vá adiantar muito...”, rimos.


“Isso é verdade... Então vou ficar aqui com você. Qualquer coisa posso te proteger.”.
“Obrigada...”, não recusaria a presença dele.


Ele sentou-se próximo a mim.
“Eles estão também estão te chateando com esse papo de...”, ele ficou um pouco encabulado pra terminar a frase e achei melhor facilitar.
“É. Sei... Mas não levo a mal.”.


“Mesmo assim peço desculpas por isso. Eles querem me ver namorando a todo custo... E parece que gostaram de você, então já viu. Tem a Melanie, mas eles não conseguem entender os meus sentimentos... Só porque estamos longe...”.
“Ah, você tem namorada?”.


“Não. Infelizmente, não... Nunca cheguei a me declarar pra ela. Ela me via só como um amiguinho e gostava de outro... Não era muito encorajador.”.



“Mas é justo isso que a minha família não entende. Só por não ser namorado dela não muda o que sinto... Ainda sou apaixonado pela Melanie.”, muita informação.
Estava me apaixonando por um rapaz completamente adorável, mas que estava decidido a permanecer apaixonado por uma garota que estava tão distante. Isso o tornava ainda mais encantador, mas então que chances eu tinha?

10- Alguém disse “mãe”?!

Pouco antes de anoitecer fui para casa, havia combinado um jantar com a família. Não fiquei surpresa ao encontrar a família Soares e a Dias também em minha casa.



Ou as pessoas se tornavam adoradores da Sandra ou a juravam de morte. Não conhecia alguém que cultivasse um sentimento intermediário a respeito dela. Todos os empregados da casa a idolatravam e bajulavam. O meu pai, mesmo depois de tantos anos de casamento, ainda a amava e não lhe negava uma vontade sequer.


Ela era mesmo uma pessoa talentosa e inteligente, além de ter sido uma modelo de sucesso da empresa do meu pai. Foi com ela que aprendi tudo o que sei sobre moda e decoração. Mas o seu egoísmo fazia ser impossível que eu a admirasse.


Precisava estar sempre cercada por elogios e não levava em consideração os desejos dos outros ao tomar qualquer decisão que fosse. Sempre fez questão de tomar as decisões por mim e de guiar os meus passos. O começo da amizade com a Raquel, o começo do namoro com o André, ter sido líder de torcida e tantas outras decisões na minha vida foram tomadas por ela.


Negar alguma de suas vontades era o mesmo que começar uma guerra e sempre parecia ainda mais insuportável do que fazer os seus desejos. Esse ano tinha começado a desobedecê-la e isso a estava deixando louca. Aquela reunião só podia ser algum tipo de punição.


Todos me cumprimentaram, inclusive o casal traidor. Precisei reforçar várias vezes na minha mente de que era tudo pelo meu pai e que logo passaria, uma noite não me mataria.


O único rosto sincero que podia encontrar naquela sala era o do meu pai. Assim que possível, dei um abraço bem apertado nele, foi quando percebi que estava com mais saudades do que pensara.


O jantar foi ainda pior do que julguei que seria.


“É claro que acho lindo o novo casal que se formou, mas sinto tanta saudade de ver o André e a Yasmin como casal... Eles eram uma gracinha juntos, ninguém pode negar.”, Sandra soube como deixar o clima ainda mais desagradável.



“Ah, mas parece que os novos pombinhos estão muito felizes juntos. O que sinto mesmo saudade é do tempo em que a Yasmin nos visitava. As nossas meninas andam tão ocupadas...”, a mãe da Raquel.


“Deveríamos marcar mais jantares como esses. Quem não tem tempo para um jantar?! Assim todos nós poderíamos nos ver com mais frequência.”, a mãe do André.


“Se a Yasmin não fosse tão rancorosa tudo seria bem mais fácil, não é!”, riu após o seu comentário.


Já tinha suportado comentários do tipo desde que cheguei e não merecia ouvir nada daquilo. Levantei-me da mesa e lamentei por fazer o meu pai passar por aquela situação.


“Yasmin, pra onde pensa que vai? Sente-se. O jantar ainda não terminou e é falta de educação sair dessa forma.”, sempre apenas preocupada com as aparências.


“Quer saber de uma coisa? Se não fosse pelo meu pai, eu nem teria vindo. Pouco me importo com o restante de vocês. Agora com ou sem a licença de vocês, estou indo.”, saí enquanto ouvia as reclamações da Sandra e comentários fingidos, sobre estarem preocupados comigo, do restante.


Já estava na frente da casa, esperando um taxi, quando o meu pai chegou.
“Minha filhinha, não saia dessa forma. Você sabe como a sua mãe é... Mas ainda assim é a sua mãe. Volta comigo...”, aquele olhar e voz afetuosa do meu pai era um golpe baixo.



“Mãe?! Quando foi que tive permissão para chamá-la assim? Se não posso chamá-la de mãe, por que devo tratá-la como tal? Me desculpa, pai... Sei que a intenção era de passarmos um tempo juntos, mas com ela é impossível. Se tiver tempo livre amanhã, podemos nos encontrar em algum outro lugar, mas pra cá... Não volto mais.”.


“Já suportei mais do que deveria. Se a Helena puder colocar o restante das minhas coisas numa mala, serei grata, mas senão puder não farei questão.”, disse enquanto lutava contra algumas lágrimas enfurecidas que tentavam descer pelo meu rosto.


Meu pai me abraçou.
“Isso parte o meu coração, filha, mas você e a sua mãe são tão teimosas... Não posso contra a vontade das duas. Só espero que você deixe pra tomar essas decisões com mais calma depois.”.


“Tudo bem, pai... Agora é melhor você entrar... Está frio aqui fora e você já não é nenhum garotão. O meu taxi já está chegando.”.


“Você e a sua mãe me tratam como algum bebezão. Não vou deixar o meu tesouro voltar de taxi. Espera um minuto que chamarei o José para te levar.”.


Já estava mais calma quando retornei à casa da Sally. Estavam todos na sala, alegres, enquanto brincavam de alguma coisa.


Só avisei que cheguei, tomei um banho e fui dormir.


Tenho sono leve e no outro dia pela manhã pude ouvir quando o celular da Sally tocou; tinha o toque de uma das músicas dos Hell’s Messengers.
“Sou eu.”, Sally respondeu ao atender.


“Só pode se for hoje? É que estou em Primavera... Meus tios, primos, o Jack e a Yasmin, por quê?... Ah... Você sempre faz tanto por mim, vou sim... Eles vão entender e ontem passei o dia todo com eles... Não sei ainda...”.


“Você vai poder me buscar? Ah, não, nem trouxe nada, já tinha roupas aqui... Hum, então é melhor eu pegar alguma coisa aqui... Te espero na estação. Até logo, querido!”. Querido? Seria o Ítalo?!


Não conhecia quem a Sally amasse mais na vida do que seus tios e primos, se ela estava deixando de passar o restante do final de semana com eles, deveria ser por alguém que importasse muito para ela... O Ítalo não se encaixava nesse perfil e não fazia ideia de quem poderia ser.