25- Complicado é apelido

No segundo intervalo do dia seguinte, a Sally surgiu ao lado do Jack onde eu o Derick estávamos. Sally limitou se a um “Oi, pessoas”, antes de sentar-se. Seguido do “Oi”, do Jack, quase inaudível senão fosse por sua voz grave.
Ela trocou um olhar cúmplice com o Jack e sorriu satisfeita antes de passar silenciosos dez segundos fitando o Derick e a mim.

 “Ai, ai, prima. Se eu não te conhecesse...”, apesar de ter soado como uma reprovação, o leve sorriso que se formava emoldurando a sua pele branca denunciou o Derick.
“Desculpa... Quanto a isso, vou tentar me conter.”, riu e só alguém que não nos conhecesse não saberia a que ela se referia, “Pois bem. Eu passei o resto do meu dia ontem pensando numa forma de unir aqueles dois, Min... Ou de pelo menos dar uma chance para que pudessem ser sinceros um com o outro.”.
Derick não fazia ideia do que Sally falava e olhou instantaneamente para mim, em busca de resposta.

“A Mariana e o Scott.”, não precisei dizer mais nada para que ele entendesse.
“Só que o Scott está namorando... E assim não pode, né! Mas, por nossa sorte, ele está namorando uma...” Sally fez uma pausa antes de prosseguir, dando a entender que tinha uma palavra rude na ponta da língua. Restringiu-se a fazer um gesto e uma careta engraçada. Todos riram.

“Já entendemos, Lilly...”, ajudei.
“Facilita!”, e riu mais um pouco, “Só precisamos fazer com que ele veja a sem noção se agarrando com algum por aí... Mas agora falando super sério, gente. Será mesmo possível que ele acredite nela tanto assim? Que nunca tenha ouvido ou visto algo que a denunciasse?! O Scott nunca foi tão ingênuo assim...”.

Era muito claro o desconforto do Jack quando o assunto envolvia a sua família. Ele aproveitou aquele instante de silêncio para se retirar com uma desculpa qualquer, “Vou pegar alguma coisa pra mim na cantina... Querem algo?”.
Sally olhou para ele com a testa enrugada, meneou a cabeça e suspirou pesarosamente assim que ele saiu.

“Ele não gosta do que estou fazendo... Só que eu também não gosto, mas parece o certo. Por favor, digam que não acham que seja algo tão horrível assim.”.
“Ainda acho que não deveríamos nos meter mais.”.
“Se você sente que é o certo, prima, então faça. E claro que vamos participar disso...”, ele notou que também falava por mim e me fitou pedindo confirmação, mas não havia nenhum sinal em sua expressão que denunciasse dúvida de que eu diria sim.
“Vamos sim.”, respondi enquanto voltava a olhar para a Sally.

Ela encheu os pulmões com ar e depois os esvaziou com um largo sorriso no rosto.
Passamos o restante do intervalo pensando numa forma de fazer o flagrante dar certo. Jack não voltou mais e, apesar de ter dito que iria à cantina, não era capaz de encontrá-lo em nenhuma direção que procurasse apenas com meus olhos.
Assim que o Derick foi na direção da sua sala e estava sozinha com a Sally, longe de qualquer um que pudesse entender o que falávamos, sugeri, “Li, acho que você deveria conversar sobre isso com o Jack. Porque, se der certo, muita coisa vai mudar... E... Ah, sei lá. Só acho que seria bom que você conversasse com ele sobre isso antes.”

Seu semblante ficou um pouco entristecido, “Você acha que não conversei? E quando penso nisso que a minha dúvida aumenta. Por pior que o Scott tenha sido para mim, nada se compara ao quanto magoou o Jack. Entendo que os maiores culpados tenham sido seus pais e que ele era uma criança quando tudo começou, mas... Jack é muito rancoroso... Pelo menos quanto a isso.”.
“Ele ficou zangado com você?”.

Ela deixou um sorriso triste escapar, “Não sei o que poderia deixá-lo zangado comigo... Ele só fica assim. Calado e fugindo da conversa. Respeito isso, mas será que estou traindo o meu amigo, Min? Porque se for isso que estou fazendo... Lamento muito pela situação da Mari e do Scott, mas de forma alguma quero fazer algo assim com o Jack. Ele... Simplesmente não posso. Gostaria que ele e o irmão se entendessem, mas isso teria que partir do Scott. Nunca, de maneira alguma, pediria que o Jack tentasse uma aproximação...”.
“Você conhece melhor o seu amigo, Sally... Só você pode dizer se está fazendo algo errado ou não. Eu gostaria de te ajudar nisso, mas é complicado...”.

“É, sei... Obrigada mesmo assim.”, só levou um instante para que ela continuasse, “Pensando bem... Acho que não devo mais fazer isso, Min. Ele sempre esteve ao meu lado... Sempre mesmo. Agora já não parece mais certo. É que odeio isso das coisas ‘é preto ou branco’, pra mim o mundo é mais cinza, sabe?! Pena que o Jack não seja assim...”.
Só fiz um barulho com a boca, não sabia o que responder, mas Sally parecia mais necessitada de falar do que de ouvir.

“Min, se eu não puder mais participar disso, você e o Derick poderiam?! Por favor, diga que sim... Não vejo outra forma de conseguir a minha consciência limpa. E assim parece que tudo fica do jeito certo, né?! Nenhum sai perdendo...”.
Eu não tinha uma real vontade de ver a Mariana com o Scott. Não achava que combinavam... Em nada mesmo. Difícil entender o que levava a Sally a insistir tanto nesse assunto.

Eu diria 'não' inicialmente, mas me lembrei do Derick e seus olhos meigos dizendo que ajudaria a prima. Tinha certeza de que ele ajudaria mesmo que eu não quisesse participar. Isso já era motivo suficiente para que eu ocupasse a minha mente com o Scott quando deveria ocupá-la com a feira de ciências tão próxima...
“Não se preocupe. Eu vejo isso.”.
“Então quer dizer que vai ajudar ou que vai pensar se vai?”.
Ela era engraçada mesmo sem a intenção.
Abri um sorriso, “Que vou ajudar, Li.”.