31- Dois é bom... Três é ainda melhor

 

O aniversário da Sally era no dia doze de outubro, seria numa segunda-feira. Naturalmente, não teríamos aula. Quando chegou o dia dez e a Sally e a Mariana não tinham voltado a se falar a minha preocupação aumentou. Nada de planos para alegrar o dia da Sally...
Eu adorava a companhia da Mariana, mas sem a Sally não era a mesma coisa. Eu precisava das duas... Minhas duas melhores amigas. Queria que elas voltassem a se falar, mas já podia imaginar que esse reencontro daria mais briga...
Sally era sempre a mais fácil de lidar. Se eu a encontrasse bem humorada, ela mesma arrumaria uma forma de voltar a falar com a Mariana. Pensando assim fui até o seu quarto.

Bati na porta umas quatro vezes, mas não houve resposta. Mas sabia que tinha gente no quarto, porque ela conversava e ria. Estava cansada demais daquela situação para usar as boas regras da educação... Abri a porta.
Era a Sally e a Mariana. As duas estavam sentadas na cama e riam.
“Olha só quem apareceu... A bruxa!”, Sally mexeu o pescoço e a cabeça imitando uma cobra.
“Vem pra cá, doida!”, Mariana gargalhava batendo num espaço livre em cima da cama.

Se eu estava tendo algum tipo de alucinação, não me importava. Tê-las reunidas e sorridentes era mais do que eu poderia desejar naqueles dias. Sentei-me com elas e passamos o resto do dia falando sobre as coisas que nos tinham acontecido sem a presença da outra. Dormimos todas no quarto da Sally, não à noite, mas em algum momento da madrugada.

No dia seguinte, assim que tive a oportunidade de ficar apenas com a Mariana, perguntei, “Mari, amanhã é o niver da Li... O que vamos fazer?!”.
“Imagina o que deixaria a Sally feliz da vida...”, deu uma pequena pausa para valorizar, “A Talita me procurou ontem pra falar sobre a festa surpresa que está organizando no ClubMix pra doidinha. Assim que ela sair do banho vamos todas pra casa dela. Você, a Talita e o Ricardo arrumam uma desculpa qualquer e vão lá pro Mix terminar de arrumar o que falta. Eu e o resto vamos mantê-la distraída.”.

“Se bem a conheço, ela vai amar. Ela sempre reclamava da falta da família dela nos outros anos... Sabe quem foi convidado?”.
“Os que vivem com ela... Nós, a banda, e uma porção de gente. À tarde vai ter uma festinha de família, algo mais calmo... Mas à noite só o povo da nossa idade.”. Percebi uma alegria diferente na voz da Mariana. Vê-la animada com festa e ainda uma no ClubMix era algo que nunca tinha imaginado antes. Perguntava-me o que eu tinha perdido.

Fizemos como o combinado.
“Ela é insuportável com isso de organização, Mimi... Quem vê pensa que é a bagunça em pessoa, mas mal sabem a compulsiva que tem por trás dessa peruca loira.”, Ricardo comentou alto comigo propositalmente.
Rimos.

“Sem dramas, senhor Ricardo. Sabe tão bem quanto eu que você odeia essa parte da festa... Desculpa, Mimi sei que você gosta dessas coisas tanto quanto eu, mas... Bem, as coisas ficaram estranhas por esses dias e eu achei melhor fazer o que podia...”, Talita.
“Que isso, Tali! Se você não tivesse agido assim, Sally não teria festa nenhuma...”.

Não havia muito mais o que fazer no ClubMix, pois a Talita tinha cuidado de praticamente tudo. Nunca imaginei que fosse ficar tão feliz com a companhia da família da Sally antes. Mas só a tarde que passei com os gêmeos me deixou exatamente assim.
Ao chegarmos, encontramos o resto do pessoal reunido na sala do segundo andar vendo filme... Que para variar, era o ‘Crepúsculo’. Já tinha perdido as contas de quantas vezes tinha visto aquele filme.

Talita sentou-se no sofá ao lado do Derick e eu fiquei entre ela e o Ricardo. Não demorou e a Talita inventou de pegar alguma coisa na cozinha e saiu, deixando-me mais próxima do que deveria do Derick. Quando o Ricardo começou a encostar-se a mim e eu a me afastar dele, me aproximando do Derick, que percebi o plano horrível dos gêmeos.

Mas antes que meus ombros pudessem sentir o calor da pele do Derick ele se levantou e saiu da sala. Depois de pouco tempo, também me retirei.
Fiquei olhando o céu, visto da parte da frente da casa, num corredor que levava até o quarto da Sally.

Não era a mesma visão de tirar o fôlego a que eu estava acostumada em Almerim, nem tão agradável como quando eu tinha a companhia do Derick, mas me dava a mesma sensação de conforto... De que tudo ficaria bem. Era o necessário.
Acredito que o filme tivesse terminado e a Sally e a Mariana passavam pelo corredor.

“É o amooor, que mexe com a minha cabeça é me deixa assiiim...”, Mariana cantarolou.
Sally riu, “Né não, Mari. A nossa querida amiga é um ET e tá esperando a sua família verde... Ops, correção... A sua família rosa, vir buscá-la.”.
Agora as duas riam e, não tendo resposta minha, seguiram o caminho para o quarto.

Ouvi risadas mais altas e um “Eita!”, que poderia ser das duas. Fui apressada até onde elas estavam. As duas olhavam através da janela.
“Acho que um dos seus parentes tá lá no quintal, Min!”, Sally.
Fui até a janela ver... Era o Derick deitado perto da piscina, admirando o céu.