30- Distância e saudade

Scott ficou paralisado por um breve instante enquanto olhava a foto. Depois colocou o celular de volta na mesa.
“É sério que você vai acreditar nessa garota, Scott?”, Mariana.

“Ah... Só pode ter sido coisa sua, né, Mariana? Não consegue aceitar o fato de que ele não tem interesse por você... E vive socada no seu computador fazendo maldades... Pois saiba que o meu amor jamais duvidaria de mim.”, apesar de suas palavras, a sua voz era frágil e suas expressões também. Como a Sally dizia: Uma ótima atriz.
“Foi você, Mari?”, Scott disse, ainda sem reação.

“Ahm?! Não acredito que você teve a coragem de me perguntar uma coisa dessas! Como pode ter ficado tão cego?! Não vê que ela está mentindo? Pergunta pra qualquer um desse colégio! Ninguém precisava dessa foto... Ninguém além de você, é claro!”, Mariana gritava.
“Você não respondeu a minha pergunta...”, Scott permanecia calmo.
“Nem vou responder! Pense o que quiser, seu idiota! Vocês dois se merecem!”.

O Scott levantou e saiu juntamente com a sua namorada.
Acho que se tivesse ficado mais um instante a Mariana não teria se controlado e teria batido nos dois.

Luan pegou na mão da Mariana, tentando confortá-la, “Em algum momento ele vai enxergar a verdade...”.
“Ah, Luan... Já cansei! Cansei de verdade... Ninguém nunca me decepcionou tanto quanto ele. Se ele quer ser chifrudo, que seja! Mas não vou ficar aqui esperando por ele pra sempre. Já perdi tempo demais!”.

Não demorou e Sally apareceu ao meu lado.
“Então era por isso que você insistiu tanto em ficar sozinha nesse intervalo, é?! E nem pra me avisar, sua chata!”.
“O Jack estava com você, pensei que você não quisesse que ele soubesse...”.

“Ah... Mas nem pra me dizer com os olhos ou algum bilhetinho... Bem, mas acho que o Jack vai pensar que eu tava nisso de qualquer jeito. Só tenho amigos bruxos, sabe...”.
“Cadê ele?”.
“Aproveitei que o pessoal da banda se aproximou e vim correndo pra cá. Não terminou bem como pensamos dessa vez, né...”.
“É... Não fazemos milagres. Acho que aqueles dois não tem jeito mesmo. Vamos lá pra perto dela.”.

Encontramos a Mariana ainda no mesmo lugar ao lado do Luan. Sentamos e ficamos num breve silêncio.
“Ah, não! Mentira que vocês fizeram parte disso!”, Mariana.
Sally arregalou os olhos, “Caraca! Quando eu digo ‘bruxos’ é no sentido literal mesmo!”.
“Aff! Agora não faz diferença mesmo... Não quero falar sobre esse retardado.”, Mariana parecia mais calma.
“Bem, se a gente continuar não querendo falar sobre certas coisas, não vão sobrar muitos assuntos...”, Sally.

“Se você quiser começar a conversa com o seu assunto proibido, por mim tudo bem, Li.”, então Mariana não estava tão calma como aparentava.
“Argh! Que máximo você, Mari! Por que não grita logo pra todo mundo sobre isso?! Quer saber, que se dane também! Antes que eu perca um amigo de verdade por causa de uma que não tá nem aí pra mim...”, Sally não gritou, mas estava claramente irritada e magoada. Saiu batendo os pés e tropeçou duas vezes.

“Ela se intromete e eu que estou errada... Essa é boa! E nem falei nada... Aff!”, Mariana.
“Mari, ela teve que esconder do Jack tudo isso só pra poder te ajudar...”.
“Sim... E eu sou culpada por isso também, é?! Cansei de dizer pra vocês duas que não queria ajuda! Se o Jack brigasse com ela era bem feito pra aprender a não fazer isso de novo... Já estou de saco cheio disso nela! Foi com você, agora comigo. Queria ver se eu tivesse feito o mesmo com ela... Rá!”.

Sabia que era a raiva pelo Scott que estava jogando em cima de nós, principalmente na Sally... Por isso achei melhor ficar calada e esperar que ela se acalmasse de verdade, assim como o Luan estava fazendo.

Os dias que se seguiram naquela semana foram bastante estranhos. Scott não estava mais com a namorada. Depois daquela tarde todos comentaram que haviam rompido o namoro. Mesmo assim o Scott não foi procurar a Mariana, sequer para se desculpar por ter a julgado mal...
Luan era amigo do Scott e da Mariana também, mas não poderia se dividir em dois no intervalo. Ele optou por fazer companhia a Mariana, mas ela vendo que o Scott estava sozinho, pediu que o Luan ficasse com ele.

Eu passava os meus intervalos apenas com a Mariana. Sally e ela ainda estavam brigadas. Derick ainda se mantinha o mais distante que podia. E o resto do grupo estava sempre com eles, então também estava privada da companhia deles.

Sentia falta de ouvir a Talita cantar, dos arranjos que criavam com os instrumentos... Dos finais de tarde na sorveteria ou comendo sanduíches na lanchonete em frente. Da bagunça que sempre tinha quando estávamos reunidos. Da Sally falando besteira. Do Jack que falava mais nessas reuniões. Do Ricardo contando piadas. Da Talita estragando propositalmente as piadas do irmão. Do Vinícius sempre falando sobre sexo. Do Caio sem saber se falava ou se ria. E do Derick... Sempre tiravam sarro do jeito romântico dele.
Todos eles tinham se tornado parte da minha vida e eu só tinha me dado conta disso quando senti os meus dias passando sem graça e de quando o melhor do meu dia era quando me pegava rindo ao me lembrar dos momentos que passei com eles.