domingo, 21 de dezembro de 2014

26- Desabar


O pessoal da peça de teatro passou a tarde ensaiando. Eu, basicamente, apenas fiquei assistindo. Tentei sair algumas vezes, mas a Fernanda insistia que era necessário que eu ficasse... Quando, finalmente, a tortura terminou, eu e a Sally fomos até a sala onde a Mariana estava.
Por fim, todo o grupo estava reunido na nossa sorveteria preferida, que ficava no próximo quarteirão depois da escola. Era simples, como a maioria dos lugares da cidade, mas tinha todo o tipo de sorvete que pudéssemos imaginar... E era divertido estar com todos eles.

Eu e o Derick sempre saíamos antes do restante do pessoal. Naturalmente, isso despertava a curiosidade e olhares cheios de insinuações, mas saíamos da mesma forma. Era quando ficávamos na Casa Secreta.
“Você não me pareceu muito certa quanto a unir a sua amiga e o Scott...”, era algum tipo de pergunta do Derick.
“É tudo tão complicado nessa história que nem sei, Derick... Prometi a Li que ajudaria e vou. Mas fico preocupada com o resultado disso tudo.”.

“Imaginei algo assim.”. Existia algum segredo que eu pudesse manter distante daqueles olhos meigos e enganosamente distraídos? Ele me conhecia tão bem quanto eu o conhecia, não havia dúvidas. Mas apenas naquele momento percebi toda a grandeza que existia nessa afirmação: Ele sabia o que eu sentia por ele.
Se mesmo as minhas mentiras soavam claras para ele, como ele não teria notado o suor frio nas palmas das minhas mãos, minhas faces sempre num tom mais rosado do que deveriam, meu corpo trêmulo e meu coração se debatendo dentro de mim? E eu ainda chamava tudo isso de paz...
Claro que ele já sabia...

“Yasmin?”, aquela voz, sempre mais doce do que um garoto normalmente tinha, trouxe-me de volta ao chão empoeirado e coberto com algumas das folhas que despencavam das árvores.
“Tô aqui...”.
Ele não riu como eu esperava diante da minha afirmação óbvia... Seu sorriso era triste.

Sem me encarar, ainda fitando um ponto entre o chão e o céu, ele suspirou pesaroso, “Eu... Eu não sei se é certo...”, meu coração disparou ainda mais se fosse possível com o tom sério que sua voz tomou, “... Eu me sinto mal, com toda essa situação...”, do que ele falava? Teria como ele saber o que eu tinha finalmente concluído... Meus pensamentos?
“Ser seu amigo me deixa com uma sensação... Incomum. Acho que nunca tive isso com alguém antes.”, não estava sendo tão fácil como sempre compreendê-lo, queria fazer com que ele falasse de uma vez – aquelas pausas estavam me torturando. Mas também não compreendia a minha ansiedade... Beirava ao desespero.

“Mas...”, sim, estava esperando que ele dissesse essa palavra. Meu coração devia ter previsto o que eu iria ouvir, porque acelerava, silenciava, apertava e saltava dentro do meu peito, “Eu sei como você se sente, Min...”, ele nunca me chamou assim antes. Por que logo naquele momento? Meu coração gritava a resposta e eu já a entendia... O adeus viria antes do que havia esperado. Devia ser justo...
“Tentei ser egoísta o bastante e te manter como companhia mesmo assim por todo esse tempo, mas...”, ele suspirou novamente e aquilo fez lágrimas inesperadas e urgentes saltarem dos meus olhos... Por que toda a minha paz foi transformada em tanta dor de repente? Já não enxergava justiça. Odiei-me por ter pensando que seria capaz de suportar feliz se ele o Derick estivesse assim também.

Senti as suas mãos inseguras tentando me alcançar, mas me afastei como um bicho e corri... Antes que elas pudessem me tocar e fazer a dor ser ainda maior – não imaginava a possibilidade. Corri sem enxergar o caminho a minha frente – muitas lágrimas, muita dor. Por que eu me permiti amá-lo daquela forma? A imagem de como tinha acabado de reagir passou por meus olhos e me perguntei se poderia chamar o que sentia de amor... Egoísmo não combina com amor.

Por que os rostos do André e da Raquel insistiram em brincar na minha frente em meio ao do Derick? Por que eu ainda pensava neles dois? Faltava ar... Por que estava sentindo tanta dor?
Eu estava girando ou caindo? Por que ainda assim via o rosto do André? Raquel também... Escuridão.

Eu sempre reconheceria aquele aroma... Doce demais. Meus músculos se contraíram ao lembrarem-se do nome – Raquel – ao mesmo tempo em que eu enrugava as narinas com o odor e abria meus olhos com o reflexo.
Aquele rosto traidor mantinha a testa enrugada e deixava nascer um sorriso tímido em seus lábios. Quem poderia pensar que aqueles traços delicados poderiam abrigar uma falsa amiga, a pior de todas? Tentando desviar o olhar daquela visão que despertava tanta raiva em mim, percebi o meu corpo deitado num banco e mãos amparavam os meus ombros... Talvez se eu fosse mais forte e mais como a Mariana, teria feito muito mais do que apenas desvencilhar meus ombros daquelas mãos...

Quase caí do banco com o movimento. Mas o infeliz foi mais rápido e me arrumou de volta. Pensei no Derick... Tinha mesmo como não pensar nele? Dessa vez eu pude prever a chegada de outra traidora... Quente que escorria por meu rosto se unindo às outras que ainda mantinham o meu rosto úmido e às outras que saltaram em seguida.

Uma mão, com unhas pintadas num rosado, apressou-se a secar meu rosto. Contorci-me.
“Talvez ela fique melhor se a deixarmos, Raquel...”, André. E finalmente eu poderia agradecê-lo por alguma coisa.
“Duvido... Mal parece que ela tá consciente... Só de lembrar de como a encontramos...”, a voz da Raquel falhava. Suas lágrimas me insultavam. Eu precisava correr. E a imagem do destino que meus pés seguiriam aumentou a minha dor...

A Casa Secreta não...
Eu não precisava de um destino, eu precisava...
Ah, Derick...
Comecei a chorar com mais força.

2 comentários:

  1. O.O
    Meldels, que atuh foi essa! Eu tô chocada e tão triste! Ç.Ç

    Então Derick sabia... E eu guardava esperanças que ele gostasse dela... Ainda não perdi todo, mas... Essa dela ser encontrada justamente por seus desafetos! OMG, vc é má, Suh!!! Ç.Ç

    Atuh linda e triste...

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  2. Sou não... çç'
    Eles ao menos cuidaram dela. =S

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