19- Certo ou errado... Como saber?

“Exatamente. É alguém que não é bom pra ela... Sally dormiu chorando ontem por causa disso. Se soubéssemos, poderíamos ajudar.”.
Ele ficou tenso ao saber que a amiga havia chorado, mas se manteve firme, “Sally nunca me contou nada. Melhor dar tempo ao tempo.”, saiu.

Jack caminhou com passos vagarosos, mas notei as suas mãos agitadas...
Não erraria em dizer que ele era exatamente o oposto da Sally. Só era necessário olhar pra ela e já saberíamos como ela estava. Ele não. Ele não era sorridente, nem carismático. Não era simpático, nem falador. Não era fácil conseguir criar alguma amizade com ele, porque ele acabava afugentando as pessoas com o seu jeito. Se não fosse através da Sally, nunca teria trocado uma palavra com o Jack. Ele conseguia ser ainda mais reservado do que eu. Não diria que era tímido, porque ele realmente não era. Lembro de algumas vezes que o vi afastado da Sally e em que alguns alunos tentavam puxar conversa com ele... Ele não era grosso, mas sempre tão direto e sem tato que os afastava.

Logo em seguida a Mariana apareceu na cozinha.
“E aí?! Ele sabe?”.
“Não sei, Mari... Tem algo estranho nessa história toda...”.
“Agora ela tá lá, pulando de um lado pro outro, rindo, brincando e até brigando como se nada acontecesse... Não entendo mesmo. A gente quis ajudar, Min, mas ela não quis a nossa ajuda. Então melhor deixar isso pra lá. Fizemos a nossa parte, né...”.
Não respondi. Não tinha certeza quanto a ter feito a minha parte.

Antes de anoitecer o Luan, o Scott, o Caio e o Vinícius saíram. O restante de nós optou por ver um filme.
Espalhamo-nos na sala e vimos dois ou três filmes até que caímos no sono.

A Mariana foi a primeira a acordar e nos acordou às pressas. Estávamos atrasados para a aula de biologia. Corremos para a os nossos dormitórios e saltamos dentro das roupas. Não conseguimos assistir a primeira aula.

Ficamos pelo pátio, enquanto esperávamos tocar o segundo horário.
Derick estava ao meu lado.
“Derick, já enviou a carta? Até que chegue a ela vai demorar um pouco...”.
Ele respirou fundo, “Eu sei, mas... Lembra quando te disse que precisaria da sua coragem pra chegar até o final? Não tava brincando...”, ele disse sorrindo, enquanto enrugava a testa.

“Está com ela aí?”.
“Estou...”.
“Então vamos lá ao correio agora. Temos meia hora, dá tempo.”.
Ele me olhou receoso, mas se convenceu de que era melhor não adiar mais e andamos poucas quadras até chegar ao correio.

Assim que chegamos, ele tirou a carta do bolso e caminhou até uma das atendentes. Pronto, não teria mais volta, a carta estaria nas mãos da Melanie em questão de poucos dias. Forcei em minha mente que estava fazendo o melhor, não precisava de mais arrependimentos em minha vida.
Tivemos que nos apressar na volta para não perdermos o segundo horário de aula também.

Tentei me concentrar em qualquer coisa que acontecia em sala de aula.
“Gostou do meu gloss, Claudinha? Minha mãe trouxe da sua última viagem... De Paris, fofa!”, Marcelo comentava com sua amiga.
“O que eu realmente achei um luxo foi o seu rímel. Querida, você precisa me passar os endereços de onde compra essas coisas ma-ra-vi-lho-sas!”, Cláudia podia ter muitos defeitos, mas não era falsa. Seu pecado era apenas o excesso de sinceridade, mas seus amigos apreciavam isso.

Dei uma olhada no Bruno.
“A senhora esqueceu-se de acentuar a palavra ‘várias’ em seu computador, professora Denise.”, ele adorava se fazer notar através de sua inteligência, mesmo que por coisas simples, como havia acabado de fazer. Logo após virou o seu rosto na direção da Sally, qualquer reação dela o importava. E ele fazia de tudo para que ela o notasse, mesmo que isso significasse mais uma discussão entre os dois.

Sally conversava com o Ítalo.
“Ah, claro. Esqueci que você é o melhor do mundo.”, ironizava.
Ele riu, “Não diria que sou o melhor do mundo, mas ninguém me vence no truco aqui nessa escola, disso tenho certeza.”, Ítalo era mesmo convencido, mas uma boa pessoa. Ele fazia isso com humor o que acabava por atrair a Sally.

Talita, Ricardo e Jack estavam prestando atenção na aula, o que me surpreendeu.
Evitei olhar para o André e a Raquel, isso não poderia me fazer bem.

A Mariana digitava cada palavra proferida pela professora.
Não conseguia prestar atenção na aula e ela parecia nunca ter fim. Foi assim com todas as aulas seguintes.

Não fui ao prédio de clubes naquela tarde, não faria nada de produtivo com a mente tão distraída como a minha estava. Dormi durante toda a tarde. E sonhei... Não saberia dizer se foi ou não um pesadelo.
Derick estava casado e tinha filhos com a Melanie. Eram felizes...

Estávamos todos reunidos. A Mariana e o Luan tinham se casado. Jack e Talita eram namorados, assim como a Sally e o Ricardo. Eu estava noiva e parecia feliz como todos os outros. Mas acordei perturbada com esse sonho...

Aquilo queria dizer que eu realmente poderia ser completamente feliz, mesmo que não fosse com o Derick?! O meu coração pareceu sumir dentro do meu peito com esse pensamento. Mas eu sabia que aquilo não era apenas um sonho... Eu acreditava naquele futuro. Perceber que de alguma maneira ainda guardava esperanças que me preocupou.